sexta-feira, 11 de maio de 2012

A mania dos cheiros

[é uma das leituras do momento; no início da Acção,
«Nico tinha olho azul, nove anos, Antônio, miúdo, seis. Júlia, barriguda, quatro» (p. 9)         [na página seguinte, a morte dos pais]       [Antônio vai ficar anão]

Página 53:
19
              Antônio, com 16 anos, já não mergulhava nas cômodas da freira, mas roubava meias das meninas. Tinha mania de cheiros, e todos eles eram agradáveis. Da carniça à fervura de uma compota. Gostava de colher e pote, pegar no fundo da vasilha um doce cremoso ou as fatias finas das cidras. Antônio se lambuza dos feitos de cozinha, até da água que enxágua as louças na pia, passa a mão cortando o fluxo da torneira. Era o filho do orfanato. Todo o colégio era dele, os cômodos, as cômodas, os órfãos, as freiras.

Andréa Del Fuego, Os Malaquias, 2012, Porto Editora



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